Três livros, três abordagens

No Fogo de Dragão, primeiro veio a arte, e só depois o argumento. Nem sequer foi o chamado «Método Marvel», em que um artista parte de uma curta sinopse, desenha a história, e depois o argumentista preenche os bonecos com balões, porque a história estava praticamente desenhada antes de sequer me ter chegado às mãos. Vi, os desenhos, concebi a história por detrás deles, acrescentei-lhes legendas e diálogo, enxertei umas poucas páginas para melhor ligar as cenas e espaçar o ritmo narrativo, e pronto. Chamemos-lhe o Método Manuel.

No Prova de Fogo, eu e o Manuel experimentámos o oposto ao qual estou mais acostumado, tratando primeiro do argumento e baseando a arte nele. Escrevi um argumento detalhado, com diálogos completos, vinhetas discriminadas e sugestões de perspectiva, e o Manuel «espremeu» a sua arte em torno dos balões, alterando a perspectiva, a composição e por vezes mesmo a própria página, seguindo a sua visão artística. Julgo que não será errado chamar-lhe o Método Padrão.

No Fogo e Sangue, estamos a experimentar algo diferente. A história está concebida e até já foi dividida em páginas com relativo rigor, mas vamos alternando entre o diálogo seguido da arte, e a arte em torno da qual o diálogo subsequentemente se adapta. Basicamente, eu e o Manuel estamos a revezar-nos em função daquelas que julgamos ser as nossas forças e dos nossos momentos de inspiração. Estou a dar-lhe espaço para ele flectir os seus músculos artísticos nas cenas mais abertas e impactantes e rédea solta nos momentos cujo diálogo ainda está algo indefinido. Ele pede-me que não abuse em determinado tipo de elementos, e eu fio-me no nível de detalhe que sei que ele consegue meter para dar mais vida a vinhetas às quais não estou a conseguir dar voz.

Não deixa de ser curioso, o facto de eu e o Manuel não sermos propriamente novatos no que à banda desenhada diz respeito, mas ainda estarmos em busca de um método para a nossa colaboração. Poderia ser frustrante, mas a verdade é que isso torna cada nova empreitada entre nós os dois um novo desafio e, como tal, algo de estimulante. No fim, os leitores logo dirão qual o método que acham que funcionou melhor.