Em Abril de 2024, raiou uma réstia de esperança. Em Maio de 2025, abriu-se uma fresta. Em Outubro de 2025, a porta fechou-se definitivamente.
Por muito que me custe – e acreditem que custa – estou numa altura da minha vida em que tenho de tomar decisões e encarar a realidade. E a realidade que já tinha encarado era a de que não seria capaz de concluir o Felizes Viveram Uma Vez nos moldes originais. Infelizmente, parece que mesmo os moldes improvisados que congeminei (contar o resto da história em forma de livro de ilustração digital) também não serão viáveis.
Estou cansado de dar o dito por não dito e de voltar atrás com ideias, mas a verdade nua é crua é que até mesmo esse meu plano de recurso foi à vida. Continuo a trabalhar e praticar no Blender quando posso, encaixando uma horita aqui e ali entre as maratonas de tradução e escrita, mas ocorreu-me algo que me tinha passado completamente ao lado: vou estar a usar essas mesmas aptidões no meu próximo projecto.
O Felizes Viveram Uma Vez é uma das maiores espinhas na minha garganta, e sem dúvida a maior de todas na minha carreira de autor. Mas tenho de aceitar o facto de que concluí-lo será sempre uma questão de mera carolice, no sentido em que é algo que farei sem vista a qualquer proveito próprio que não a satisfação de dar a saga por terminada. A minha editora não irá publicá-lo, e o tempo que eu gastar nele será tempo que não estarei a investir em projectos que me darão retorno. E o projecto que se seguirá a A Última Crónica também vai ter elementos gráficos de minha autoria, no mínimo o material promocional, pelo que se torna inviável estar a usar o Blender para ilustrar o Contos de Malfadadas. Coisa em que até tinha trabalhado, como podem ver por esta amostra (muito) inacabada do Borralheiro.

O que se segue, então? Aquilo que nunca imaginei vir a fazer: adicionar uma terceira página à secção Felizes Viveram Uma Vez do www.filipe-faria.com, nela disponibilizar o PDF dos primeiros capítulos do Contos de Malfadadas e publicar uma versão resumida dos restantes, colorida com os respectivos apontamentos e referências visuais, para que ao menos os fiéis leitores que esperam há mais de dez anos saibam como acaba a história.
É uma solução algo indigna, acreditem que sei, mas tenho de parar de sonhar com um hipotético futuro no qual o tempo se vai dilatar e eu terei novamente disponibilidade para me dedicar a acabar o Felizes Viveram Uma Vez como deve ser. Podia esperar mais dez, quinze, vinte anos, que nunca se sabe o que o futuro trará, mas não quero ser esse autor. Prefiro encerrar este capítulo de vez e dar-lhe um fim que, um dia, talvez possa retomar e melhorar, do que deixar esse fim eternamente pendente e votar tudo ao mais frustrante dos esquecimentos.