Do Caos e a ele relativo

Como já por várias vezes descrevi, sou muito estruturado e disciplinado na escrita dos meus livros. Não começo a dar ao teclado antes de ter a narrativa bem mapeada, e já por várias vezes me questionei se não estarei a perder a energia selvagem e desenfreada da pura criação inspirada.

Dito isto, apesar do meu pretenso metodismo antes de começar a escrever cada livro, sou extremamente caótico no que à preparação diz respeito. Basicamente, tenho a ideia geral do que quero que aconteça, umas quantas cenas em mente e um ou outro capítulo razoavelmente bem detalhado à partida. Depois, coloco essas peças numa tela em branco e vou preenchendo os espaços entre elas, dilatando-os ou estreitando-os conforme a minha noção do fluir do enredo e tempo narrativo.

Isso tem sido mais evidente na preparação para Os Filhos do Caos, fazendo jus ao título do volume, mais ainda do que n’A Oitava Era. Talvez por ter estado mais «receoso» ou com nervos de regressado quando comecei o Ciclo II das Crónicas — ou, quem sabe, com menos confiança na minha capacidade de fazer as coisas resultarem se não estivessem minuciosamente detalhadas. Felizmente, tendo em conta o quão bem a escrita correu e o quão bem recebido o livro tem sido, achei que podia regressar à velha bandalheira criativa que tanto prazer me dá.

Já antes o referi, e pode soar excessivo, mas o preparar um livro consegue realmente ser mais estimulante do que a escrita do dito em certos momentos. A sensação exultante da epifania que permite ligar o ponto A ao B, a antecipação do «tudo pode acontecer» quando coloco duas ideias ou situações díspares à espera do clique que fará com que ambas façam sentido, a simplicidade de saber que estou apenas a jogar com ideias, a liberdade de não estar preso pelas limitações da escrita para dar largas à imaginação… Tudo isto é pura energia criativa, e sinto-me como peixe em água quando nela me embrenho.

Tudo isto vem a propósito do avanço do planeamento, que, como podem reparar no separador Escritas, tem avançado bastante, está bem e recomenda-se. Havia algumas pedras no meu sapato narrativo que me estavam a incomodar, mas consegui finalmente livrar-me delas. Já referi há uns tempos que certas coisas no enredo mudaram, e, em resultado das recentes epifanias, outras tantas acabam de mudar ou ser ajustadas. Faz tudo mais sentido, abre outras possibilidades para o terceiro volume, e já não tenho de recorrer a liberdades artísticas… Mas o resultado final, esse só os leitores poderão avaliar. Por isso, a ver vamos se não tenho de vir aqui engolir as minhas palavras para o ano.