Dar à luz no papel

Escrever é a minha paixão, e tem a vantagem de servir tanto como «trabalho» como passatempo. Um passatempo que tem tanto de lúdico como catártico, o que faz com que se destaque de outros, como ler e jogar jogos. Nunca fui de filmes ou de séries, mas estou sempre com um livro na mesa-de-cabeceira e tendo a jogar regularmente, sobretudo jogos com narrativas que possa jogar do princípio ao fim.

No entanto, quando estou em fase de inspiração e a escrever a um bom ritmo, praticamente paro de ler e tiro uma pausa prolongada das sessões de jogatana. Não necessariamente por a escrita tomar tempo (que toma), mas porque deixo de sentir necessidade de me perder noutros mundos quando estou a criar. Tenho cenas a passar em repetição na minha cabeça, cenas que realizo, produzo e coordeno, antes de as passar para a pós-produção da escrita. Tenho o equivalente a uma telenovela turca de relações presentes e futuras a enredarem-se, um orçamento superior ao de qualquer produção de Hollywood, e uma subscrição vitalícia e gratuita para coisas de que sei que vou gostar.

Como já antes disse, preparar um livro consegue por vezes ser mais estimulante do que a escrita do dito, e há algo mais por detrás da ânsia de um escritor do que a necessidade de contar uma história ou expressar os seus sentimentos. Está activamente a criar algo do nada, algo seu, e a minha teoria é que o acto da criação é o mais próximo que um homem consegue chegar da sensação de ter dado à luz. E, da mesma forma que não imagino que haja muitas mulheres a ler, jogar ou a ver séries na sala de parto, também eu não o faço enquanto estou em fase de escrita.

Ok, certamente não da mesma forma, mas vocês percebem. Espero. Havia formas mais fáceis de explicar porque é que a minha lista de leituras no blogue não se tem mexido ultimamente, mas lá está: senti a necessidade de criar algo mais para ilustrar a minha perspectiva. E agora vou só calar-me e continuar a escrever.