Não tenho jogado muito nos últimos anos, mas a influência daquilo que joguei no passado continua a fazer-se sentir. E os combates terríveis e totalmente desprovidos de esperança que estou agora a escrever n’A Última Crónica fazem-me lembrar um jogo em particular, que tanto me fascinou como me aterrou.
Falo de Arx Fatalis, um jogo francês de culto que tem tanto de premissa intrigante como de ambiente tremendamente imersivo. Tem a sua reputação, mas acho que não era para ter sido tão difícil como o foi comigo, porque eu joguei um bocado à balda, mais para mergulhar naquele mundo e viver a história do que subir estatísticas.
Assim, tal como os companheiros contra os Filhos do Caos, estava em grande parte despreparado para as ameaças horrendas com que deparei. Desci a uma necrópole à touro, como quem ia visitar a campa de um parente. Enfrentei bichos horríveis sem estar devidamente munido contra eles. E, porque avancei para onde não devia, deparei com uma máquina de destruição, que me fez correr à Benny Hill enquanto arranjava forma de a combater.
E o mais fascinante do jogo é que ele permite tais veleidades. Com sangue na guelra, muito engenho e ainda mais persistência, é possível vencer as adversidades aparentemente intransponíveis de um mundo em que cada canto parece uma armadilha mortal. Nunca esquecerei o meu terror e genuíno susto quando, após horas de acumular de tensão e pistas macabras, o lich da necrópole surge para me castigar por ter pilhado o seu túmulo. Ou a minha combinação de feitiços para despachar individualmente as criaturas que, mecanicamente, não estava apto a vencer. Ou a coreografia que se espera dos jogadores para conduzir a criatura aparentemente invencível ao seu fim prematuro.
Arx Fatalis é um jogo em que os sons ambientes de um mundo incrivelmente bem construído ficam mais gravados na nossa memória do que a banda sonora, em que o equipamento «chulado» tem menos valor do que o engenho, e em que o sistema de magia (talvez o mais brilhante alguma vez concebido para um jogo) mantém de facto a sua aura de mistério. Ou, então, nada disto é verdade, e eu joguei simplesmente mal o jogo. Mas foi inesquecivelmente mal jogado, e aproveitarei bem as memórias dele para as aplicar em alguns dos combates que agora estou a descrever.
