O princípio do fim

E assim começa, com uma singela frase, seguida de citações coladas de apontamentos e artigos para me ajudar a melhor visualizar e descrever a cena quando tornar a pegar nela. Desta vez, não foi no primeiro dia do ano, nem após o meu aniversário, mas no primeiro dia de Março. Que, sejamos francos, é um dia tão bom como qualquer outro para começar a escrever um livro. Mesmo que seja um último livro. Não o meu último livro, entenda-se; provavelmente nem o último de Allaryia, mas de certeza absoluta o último das Crónicas, como aliás o deixa bem claro a nova entrada na barra de progressos do «Escritas» aqui no blogue.

É verdade: A Última Crónica. Desta vez, sem finais que deixam o leitor pendurado, nem com «O princípio…» como últimas palavras. Esta última crónica será o nosso derradeiro encontro com os companheiros que restam do heterogéneo grupo que, há mais de vinte anos(!), partiu em busca de uma certa manopla e, fazendo trinta por uma linha a uma escala épica, levaram a aventura por rumos que foram muito para além dos inicialmente planeados e tornaram Allaryia um mundo muito mais rico no processo.

Curiosamente, só agora, que estou a escrever estas palavras, é que me está a tocar. Vai ser o adeus definitivo a companheiros que se tornaram meus, e vai ser, no mínimo, estranho. Já sei a que projecto me vou dedicar a seguir (e não, não será em Allaryia), por isso nem é que me esteja a sentir criativamente desamparado por antecipação, mas foi através do Aewyre e companhia que tanto eu como os leitores conhecemos este mundo de fantasia. Não será menos fantasioso sem eles, até porque deixei tanto por explorar, mas não tem como ser o mesmo sem a participação directa deles na história. Nem nunca poderia ser. Razão pela qual não me imagino a ter grande pressa em voltar após concluir este livro.

Mas estou a adiantar-me. Primeiro, há que fazer com que este seja o final em grande que uma decalogia de duas décadas merece. Já sei o que vai acontecer, como é óbvio, mas segui o meu método habitual de deixar suficientes incógnitas e espaços em branco para me surpreender a mim mesmo durante o próprio processo de escrita. Se tudo correr «apenas» como planeado, acho que os leitores já ficarão de barriga cheia, por isso resta-me esperar pelo melhor e ver aonde a musa me leva…